domingo, 17 de outubro de 2010

70 ANOS DE JOHN LENON O legado do ex-Beatle

Na noite do dia 8 de dezembro de 1980, John Lennon voltava para casa acompanhado da mulher, Yoko Ono. Na entrada do edifício Dakota, em Nova York, onde o casal morava, um homem o chamou: "Sr. Lennon!". Antes que pudesse se virar, foi atingido por quatro disparos de revólver calibre 38 e caiu sangrando na portaria do prédio. O autor dos disparos era o ex-segurança Mark David Chapman, de 25 anos, que cumpre pena de prisão perpétua. Seis horas antes, ele havia conseguido um autógrafo do músico na capa do disco "Double Fantasy", o último da carreira de Lennon. Nas mãos, além da arma, Chapman trazia um exemplar de "O Apanhador no Campo de Centeio", livro de J. D. Salinger que, assim como o ex-Beatle, virou símbolo de uma era. Se estivesse vivo, John Lennon teria completado 70 anos no último dia 9 de outubro. Em dezembro, serão 30 anos da morte do músico. Mesmo após a morte, ele continua sendo um sucesso comercial e uma personalidade que influencia gerações. O assassinato de Lennon marcou o fim de uma época de idealismo, contestação política, experimentação com drogas, misticismo oriental e liberação sexual. Um período que teve outros "mártires", como Jimi Hendrix e Janis Joplin , mas nenhum tão emblemático quanto ele. Em apenas duas décadas, Lennon viveu o melhor e o pior da fama. Nos anos 1960, era o mais talentoso dos Beatles, um rapaz alegre e irônico que ditava a moda e o comportamento da geração "paz e amor". Nos anos 1970, já casado com a artista plástica japonesa Yoko Ono, engajou-se em campanhas pacifistas e se envolveu em polêmicas. Nos últimos anos de vida, era um pacato pai de família.

Garotos de Liverpool

John Winston Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940 em Liverpool, cidade portuária da Inglaterra. Era a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a cidade sofria com os bombardeios nazistas. O nome do meio era uma homenagem a Winston Churchill , primeiro-ministro durante a guerra. John era filho de um marinheiro, Alfred, que abandonou a família quando ele tinha 4 anos de idade. A mãe, Julia, deixou o menino aos cuidados da irmã para viver com outro homem. O jovem só reencontraria a mãe anos mais tarde, em 1952, quando ganhou dela sua primeira guitarra. Mas a companhia durou pouco: Julia morreu atropelada em 1958. Dois anos antes, Lennon conheceu seu futuro parceiro musical, James Paul McCartney . Paul era dois anos mais novo, vinha também de uma família de classe média e a mãe havia morrido de câncer quando ele tinha 14 anos. Além das tragédias familiares, os dois tinham em comum o gosto pela música. Eles tocavam juntos numa banda criada em 1956, chamada Quarrymen - nome inspirado na escola que frequentavam, a Quarry Bank High School. Mais tarde, George Harrison (morto em 2001) se juntaria ao grupo. A banda tocava em bares e fazia pequenas turnês pela Europa. Em 1960, o nome do grupo foi mudado para The Beatles (Os Besouros), em homenagem à banda de Buddy Holly, The Crickets (Os Grilos). No ano seguinte, os rapazes foram vistos no famoso bar Cavern Club pelo empresário Brian Epstein, que os levou a assinarem os primeiros contratos de gravação. Antes de gravarem os primeiros sucessos, o baixista da banda, Stuart Sutcliffe, deixou o grupo para se casar e se dedicar à pintura. E outro integrante, o baterista, foi substituído por Richard Starkey Jr., ou Ringo Starr , completando a formação dos Beatles, com John Lennon e George Harrison nas guitarras e Paul McCartney no baixo. Entre 1962 e 1963, os Beatles lançaram seus primeiros compactos e álbum, alcançando enorme sucesso na Inglaterra e Estados Unidos. Em apenas oito anos eles reescreveram a história da indústria e da cultura da música pop internacional. Ficaram famosos no mundo inteiro - mais do que Jesus Cristo, numa das controversas frases de John - e receberam da rainha Elizabeth a Ordem do Império Britânico, uma condecoração tradicional. Depois da morte do empresário, em 1967, Paul McCartney tentou assumir os negócios da banda, dando início às desavenças. O grupo se dissolveu em 1970, deixando 13 discos com músicas que inspiram milhares de pessoas no mundo todo.

Paz e amor

Para os críticos, outro motivo da separação dos Beatles foi a influência de Yoko Ono na vida de John Lennon. Eles se conheceram em 1966. O ex-Beatle era casado com Cynthia Powell e tinha um filho, Julian Lennon. Dois anos depois, começaram um relacionamento amoroso que provocou o divórcio do músico. De certo modo, Yoko ajudou-o a se livrar de dois casamentos que o deixavam frustrado, um com a mulher e outro com os Beatles. Ao lado de Yoko, Lennon fez uma bem sucedida carreira solo como músico e ativista político. Ficaram famosos os "bed ins", coletivas de imprensa em cama de hotéis, promovidos pelo casal em campanhas contra as guerras. Lennon gravou duas músicas que se tornaram símbolo do pacifismo, "Give Peace a Chance" ("Dê uma chance à paz") e "Imagine", cujos versos diziam "Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz". Por sua atuação política, o casal foi vigiado pelo FBI, a polícia federal americana. Eles também foram presos com drogas e ameaçados de expulsão dos Estados Unidos. Após o nascimento de Sean Lennon, em 1975, Lennon abandonou a profissão para se dedicar à família. Ele só rompeu o autoexílio cinco anos depois, para gravar o último disco, poucos meses antes de ser assassinado. Neste ano, as comemorações vêm acompanhadas por uma nova onda de popularidade de John Lennon. Elas incluem o relançamento dos álbuns e o licenciamento para diversos produtos, entre eles uma caneta Montblanc enfeitada com pedras preciosas e o uso da imagem do ex-Beatle para vender até carro. Detentora dos direitos autorais de Lennon, Yoko Ono se defende dizendo que essa é a melhor maneira de manter viva a memória do marido. Discussões à parte, o fato é que John Lennon está mais vivo do que nunca.

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