sábado, 31 de julho de 2010

Da invasão do Kuwait à ocupação americana do Iraque

Há 20 anos começou a Guerra do Golfo, um dos maiores conflitos do Oriente Médio. Na madrugada do dia 2 de agosto de 1990, tropas iraquianas, sob o comando de Saddam Hussein, invadiram o vizinho Kuwait, rico em petróleo. A reação da comunidade internacional foi imediata, com sanções econômicas e uma ofensiva militar - liderada pelos Estados Unidos - que arrasou o Iraque. A guerra foi sucedida pela invasão americana do Iraque em 2003, por conta dos atentados do 11 de Setembro. A ocupação militar, que deve terminar em 2011, mudou o panorama geopolítico da região.
Causas da guerra
Depois de quase quatro séculos sob domínio do Império Otomano, o Iraque se tornou colônia do Reino Unido ao final da Primeira Guerra Mundial. O regime monárquico instaurado durou de 1921 a 1958, quando a família real foi assassinada em decorrência de um golpe de Estado. Em julho de 1968, o Partido Socialista Árabe Baath, do líder sunita Saddam Hussein, chegou ao poder. Ele foi eleito presidente em 1979, cargo que ocuparia por 24 anos. Nesse período, o Iraque se envolveu em três guerras no Golfo Pérsico. A primeira Guerra do Golfo foi travada contra o Irã (1980-1988) depois que a Revolução Islâmica , liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, depôs a monarquia iraniana. Durante o conflito, Saddam teve apoio militar dos Estados Unidos, que temia a influência do fundamentalismo islâmico sobre o Oriente Médio. O governo americano, na época, ignorou o uso de armas químicas e biológicas pelas tropas iraquianas, incluindo o massacre de curdos. Mais tarde, usaria isso como justificativa para invadir o país. Ao final da guerra, tanto o Irã quanto o Iraque estavam arruinados. A situação econômica do Iraque foi ainda agravada pela queda do preço do petróleo nos anos 1980 - o país é o 10º no ranking de produtores e 11º no de exportadores de petróleo no mundo. Além disso, estava endividado, ao contrário do vizinho Kuwait (13º produtor e 6º exportador mundial do minério), que explorava as jazidas existentes nas proximidades da fronteira iraquiana. Nesse contexto, a invasão do Kuwait teve razões econômicas e territoriais. O governo do Iraque acusava o vizinho de provocar a queda do preço do petróleo ao vender mais do que a cota permitida pela Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP). Saddam também queria que o Kuwait perdoasse uma dívida contraída durante a Guerra Irã-Iraque e cobrava uma indenização de US$ 2,4 bilhões por suposta exploração ilegal em campos petrolíferos iraquianos. Outro motivo foi a divisão da fronteira entre os dois países, assunto de controvérsias desde o fim do Império Otomano, quando o Reino Unido demarcou os territórios. O governo iraquiano alegava que, antes da colonização inglesa, o Kuwait pertencia à província de Basra, localizada ao sul do país.
Invasão
Ao invadir o Kuwait, em 2 de agosto de 1990, dando início à segunda Guerra do Golfo, Saddam subestimou a reação da comunidade internacional e do governo americano, seu antigo aliado na guerra contra o Irã. Para Saddam, a guerra era uma forma de sanar as finanças do país e adquirir poder no mundo árabe. Para os Estados Unidos, era a oportunidade de ocupar militarmente a região e garantir o domínio sobre parte do petróleo árabe. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a invasão e aprovou uma resolução que impunha sanções econômicas ao Iraque. Ao mesmo tempo, a Liga Árabe iniciou as negociações para tentar resolver o conflito por meio da diplomacia, sem alcançar sucesso. Em 28 de agosto, o governo iraquiano anexou o Kuwait como sua 19ª província. No dia seguinte, a ONU deu um ultimato: até o dia 15 de janeiro de 1991 as tropas deveriam se retirar; caso isso não ocorresse, haveria ofensiva militar. Para cumprir esse ultimato, formou-se uma coalizão de 34 países liderados pelos Estados Unidos: entre eles, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Egito e Síria. Um contingente de 750 mil soldados foi mobilizado contra 200 mil soldados iraquianos. No dia 17 de janeiro de 1991 começou o ataque aéreo contra Bagdá, capital iraquiana. Entre os dias 25 e 28 de fevereiro foi desencadeada a "Operação Tempestade no Deserto", com forças da ONU comandadas pelo general americano Norman Schwarzkopf. Os bombardeios eram acompanhados pela TV em todo o mundo. Na chamada "guerra cirúrgica", mísseis "inteligentes" atingiam alvos militares e a infraestrutura de Bagdá. Ao término da operação, os soldados iraquianos foram expulsos do Kuwait e Bagdá aprovou o cessar-fogo no dia 3 de março.
Consequências
A família real do Kuwait, que havia deixado o país antes da invasão, retornou após o fim do conflito. Cerca de mil civis morreram na guerra e outros 300 mil deixaram o país. O Exército iraquiano também danificou 737 poços de petróleo, provocando danos ambientais em toda região do Golfo Pérsico. O Kuwait levou mais de dois anos para reparar os danos causados à sua indústria petrolífera. No Iraque, a guerra deixou 3.664 civis mortos - e o país ficou em ruínas. Para piorar, durante os anos 1990 foram impostas sanções comerciais e financeiras, a fim de que o governo desmantelasse sua indústria bélica e pagasse indenizações de guerra, o que impediu a reconstrução do país. Em 20 de março de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque com apoio do Reino Unido. O governo de George W. Bush acusou Saddam de ligação com os atentados de 11 de Setembro e de possuir armas de destruição em massa, fatos que nunca foram comprovados. Segundo especialistas, o real motivo da guerra seria garantir o controle das reservas de petróleo. O ditador iraquiano foi deposto, capturado ao final de 2003 e condenado à morte em dezembro de 2006. Para os Estados Unidos, contudo, foi apenas o começo de uma das guerras mais longas, caras e mortíferas de sua história, só perdendo para o conflito do Vietnã A guerra do Iraque já custou US$ 736 bilhões aos cofres americanos (contra US$ 286 bilhões gastos no Afeganistão) e deixou um saldo de 4.731 soldados mortos, sendo 4.413 americanos (contra um total de 1.968 mortos, sendo 1.207 americanos, no Afeganistão). A morte de americanos em atentados terroristas em Bagdá e os escândalos decorrentes de abusos cometidos contra presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib tiveram repercussão interna e mancharam a imagem da Casa Branca. Por isso, com a eleição de Barack Obama para a presidência da República em 2009, a estratégia foi mudada. Ele prometeu retirar a maior parte dos combatentes até 31 de agosto de 2010. Hoje, existem aproximadamente 85 mil soldados americanos no Iraque. Metade do contingente deve permanecer e ser removido gradualmente até 31 de dezembro de 2011. Depois disso, o Iraque conquistará de novo sua independência.

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