quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Partido Comunista faz 90 anos, sustentado pelo capitalismo


Partido Comunista chinês completou 90 anos de fundação no dia 1o de julho. No comando do país mais populoso do planeta, o partido sobreviveu ao colapso dos regimes comunistas do século 20 e continua mais forte do que nunca.

Vive, no entanto, um paradoxo que precisa ser solucionado: uma moderna e dinâmica economia de mercado aliada a um Estado repressor que limita as liberdades individuais e que destoa das democracias em vigor nos demais países desenvolvidos.

Para se adaptar ao mundo globalizado, o PC chinês precisou adotar o modelo econômico capitalista. As reformas começaram em 1978. Em três décadas, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu numa média anual de 10%, tirando 400 milhões de pessoas da pobreza.

O "milagre" chinês transformou um país agrário e analfabeto na atual segunda maior potência econômica do mundo, atrás somente dos Estados Unidos.

Na política, o governo mantém o controle total sobre a vida dos chineses. Não tolera oposição, reprime com violência os dissidentes e censura a imprensa e a internet. O país vivencia uma das maiores ondas de repressão dos últimos anos, tendo como alvo os ativistas pró-democracia (inspirados pelas revoltas no mundo árabe), tibetanos e outras minorias étnicas.

Hoje, o partido gasta mais com segurança interna, na censura e repressão ao povo, do que com a própria segurança externa.

regime ditatorial é o ponto fraco no domínio do partido, que sofre críticas de países ocidentais. Apesar disso, conta com o apoio da maior parte da população, beneficiada pelos avanços na área econômica.

O PC chinês foi fundado em 1921, numa reunião clandestina em Xangai, com apenas 53 integrantes (hoje possui 80,2 milhões de filiados, segundo dados oficiais). Entre os delegados presentes no primeiro encontro estava o líder revolucionário Mao Tsé-tung, então com 27 anos. O líder é cultuado até hoje naChina.
 

Massacres

O PC chegou ao poder em 1o de outubro de 1949, com a Revolução Chinesa, depois de combater os nacionalistas e os invasores japoneses. Nas três décadas seguintes, sob a liderança de Mao Tsé-tung, promoveu uma desastrosa campanha para modernizar o país que matou cerca de 20 milhões de pessoas de fome.

Em 4 de junho de 1989, o Exército Chinês tomou a praça da Paz Celestial(Tiananmen), em Pequim, e sufocou o maior protesto pró-democracia já ocorrido no país. Sete mil pessoas morreram, segundo estimativas de órgãos independentes.

Nos eventos de comemoração aos 90 anos, o governo quis deixar esse passado esquecido e divulgar os progressos recentes que tornaram o país rico. A festa foi um imenso esforço de propaganda, com o lançamento de um filme oficial sobre o partido, desfiles patrióticos e inauguração de obras como a mais extensa ponte sobre o mar do mundo, com 41,58 km, na cidade litorânea de Qingdao.

Em discurso na capital, o presidente e secretário-geral do PC, Hu Jintao, disse que o partido aprendeu com os erros do passado e que vai, daqui para a frente, combater a corrupção de membros do governo. A partir do ano que vem, a cúpula do partido começa a se renovar.
 

Revolução Chinesa

A China foi uma das civilizações mais avançadas do mundo antigo. Na era das dinastias, porém, o sistema feudal do Império deixou o país em desvantagem em relação às nações europeias. Assim, no início do século 19, o território chinês foi ocupado por estrangeiros.

A revolta contra o domínio colonial gerou levantes populares entre os camponeses, que perfaziam 80% da população. Foi nos campos que surgiram o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês), que proclamou a República entre 1911 e 1912, e o partido comunista.

No início, o PC e o Kuomintang eram aliados contra as potências colonialistas. Mas com o golpe militar em 1927, promovido pelos nacionalistas, os comunistas foram para a clandestinidade e adeririam à luta armada.

Sob a liderança de Mao Tsé-tung, o PC chinês derrotou o Partido Nacionalista e proclamou em 1949 a República Popular da China, como apoio da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

A China era então um país pobre, atrasado e destruído por mais de duas décadas de guerras civis. Por isso, Mao promoveu o Grande Salto Adiante (1958-1961), uma campanha de aumento da produção agrícola e industrialização. Os resultados, entretanto, foram catastróficos: milhões de chineses morreram de fome.

Outro período traumático foi a chamada Revolução Cultural, ocorrida entre 1966 e 1977. Nesta época, o exército prendeu, exilou e matou intelectuais e pessoas consideradas inimigas do governo.

Após a morte de Mao, Deng Xiaoping assumiu a liderança e realizou reformas políticas e econômicas, entre 1978 e 1980. As reformas tiveram como maior característica a abertura do mercado. Foram elas que garantiram a permanência do comunismo na China depois da queda dos regimes no Leste Europeu e possibilitaram que o país se tornasse uma das nações mais ricas do planeta.

Dívida americana - Estados Unidos afastam risco de calote


O governo dos Estados Unidos venceu nesta semana uma importante batalha – só que em um front doméstico. Em meio a um ambiente de tensão e expectativa nos mercados financeiros, o Congresso americano aprovou a elevação do teto da dívida pública. Dessa forma, evitou o risco de um calote inédito da maior economia do planeta, o que poderia provocar uma crise na economia mundial.
O debate que antecedeu a votação no Parlamento também forneceu uma lição de como a economia depende de decisões políticas. Durante quase um mês, o mundo ficou praticamente refém dos dois partidos políticos americanos, o Democrata e o Republicano, que possuem visões antagônicas. Como isso aconteceu?

Dívida pública é o conjunto dos empréstimos que um Estado faz para cobrir gastos que incluem saúde, obras, aposentadorias e pagamento de credores. A dívida surge quando o valor arrecadado com impostos não é suficiente para pagar as despesas. É parecido com o orçamento doméstico: se não temos dinheiro para fazer uma reforma na casa, podemos pedir emprestado ao banco.


Essas dívidas são contraídas por meio da emissão de títulos públicos. O título é uma garantia de que o valor investido naquele país – por um banco, uma empresa, um cidadão ou outro Estado – será ressarcido com juros.

Em algumas circunstâncias, o endividamento pode atingir o patamar previsto no orçamento. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Os gastos militares com as guerras do Iraque e do Afeganistão, somados à crise financeira de 2008, fizeram com que o limite (US$ 14,3 trilhões ou cerca de R$ 22,2 trilhões), fosse atingido em 16 de maio. Uma manobra do Executivo permitiu estender esse prazo-limite para 2 de agosto, mas algo precisava ser feito. 

Quem determina o teto de endividamento federal nos Estados Unidos, desde 1917, é o Congresso. Por isso, democratas e republicanos elaboraram projetos visando o aumento desse limite.

Caso uma proposta não fosse aprovada até 2 de agosto, os Estados Unidos não teriam como pagar seus credores, decretando moratória. Seria o primeiro calote na história americana. O mais grave é que os títulos do país são considerados os mais seguros do mundo. Quais seriam as consequências de um calote do Tesouro americano?

De acordo com analistas, em primeiro lugar, o país perderia a credibilidade. E credibilidade é essencial no universo das finanças. Afinal, ninguém emprestaria dinheiro para um mau pagador.

Agora, imagine se esse mau pagador fosse a nação mais rica do mundo. O calote afetaria não somente a economia interna, mas a de outros países. OBrasil, por exemplo, é o quinto maior credor estrangeiro do governo americano (o primeiro é a China). Poderia haver outra crise econômica como a de três anos atrás. 

 
Política
O impasse surgiu quando as propostas começaram a ser debatidas no Congresso. Não havia consenso entre os parlamentares.

Os democratas, que formam a base aliada do governo, são mais liberais, enquanto os republicanos (que fazem oposição) tendem a ser mais conservadores. Ambos os lados concordaram que era preciso equilibrar as contas do governo. Mas divergiam sobre o modo de fazer isso.

Os republicanos queriam que o governo cortasse gastos na área social e eram contrários ao aumento de impostos. Já os democratas propunham aumentar os impostos dos mais ricos e reduzir gastos militares, protegendo os programas sociais.

Em 1º. de agosto, os deputados federais aprovaram um plano bipartidário na Câmara dos Representantes, por 269 votos a favor e 161 contra. No dia seguinte, no prazo final, o Senado aprovou a proposta por 74 votos a 26. Até o término da votação, o clima de incerteza afetou os mercados internacionais.

O acordo prevê que o nível de endividamento seja elevado em até US$ 2,4 trilhões (R$ 3,7 trilhões). Isso será feito em etapas até 2013, evitando novas disputas no ano que vem, quando ocorrem eleições presidenciais.

Outra medida do plano é o corte de gastos, no mesmo montante, em dez anos. É, portanto, uma espécie de cheque que o governo receberá para gastar, mas que terá de pagar no futuro. Os cortes nas despesas terão ainda que passar pelo Legislativo.

Apesar de a sanção da lei ter evitado uma crise, a imagem dos Estados Unidos não saiu ilesa da disputa política. E, a despeito do alívio nas bolsas de valores, os mercados financeiros serão assombrados por uma dúvida: quando virá o próximo sufoco?