quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Guerra do Vietnã: cicatrizes ainda não curadas

Os quase 2 milhões de vietnamitas mortos na guerra fizeram com que o Vietnã perdesse parte considerável de sua população jovem. A falta de mão-de-obra faria com que, logo após o término dos conflitos, o país entrasse numa grande estagnação econômica. Pelo Acordo de Paris, os Estados Unidos se obrigavam a prestar ajuda financeira ao país para sua reconstrução. No entanto, durante o governo de Ronald Reagan (1980-1988), Washington suspendeu a ajuda ao país comunista.

Seus aliados ideológicos, principalmente a China e a URSS, também foram deixando o Vietnã de lado ao longo da década de 1980. A mudança da orientação na política econômica do PC chinês na época de Deng Tsiao Ping, abrindo-se para os investimentos capitalistas externos, e a adoção da glasnost que levaria ao fim da URSS fizeram com que o apoio vindo do bloco comunista diminuísse consideravelmente. Desamparado de ambos os lados, o Vietnã entraria numa grave crise econômica e social. Milhares de pessoas tentaram fugir da crise se refugiando em países vizinhos, muitas vezes arriscando suas vidas cruzando o mar da China em pequenos barcos. Os grandes centros urbanos passariam a conviver cada vez mais com a marginalidade social.

Em 1986, a recuperação do país deu um passo decisivo quando o governo começou a implantar uma política econômica chamada de dói mói (renovação). Mesmo mantendo-se comunista, o governo abriu o mercado vietnamita para a entrada de inúmeras empresas privadas. Assim como na China, o Vietnã passou a ter uma economia de mercado com orientação socialista. Em 2000, o governo criou uma lei que permitia a criação de empresas com 100% de capital estrangeiro, atraindo, com isso, investimentos japoneses, chineses e também norte-americanos. Vale lembrar que em 1994 os EUA colocaram fim ao embargo econômico ao país, reatando, no ano seguinte, relações diplomáticas com Hanói.

Até mesmo a França, antiga colonizadora da região, voltou-se à região com a instalação de indústrias como a Danone e a France Telecom. Apenas em Ho Chi Minh, antiga Saigon, quase 200 empresas francesas se instalaram nos últimos anos.

Os grandes conglomerados estrangeiros foram atraídos por um extenso mercado consumidor (o país tem cerca de 76 milhões de habitantes) e grandes reservas naturais como o petróleo. Além disso, o país conta com uma quantidade considerável de mão-de-obra barata com bom nível de educação. A taxa de analfabetismo no Vietnã é de 12% da população adulta, um número relativamente satisfatório para um país em que a renda per capita é menor que US$ 400 anuais.

Com a abertura do mercado, a economia vietnamita passou a crescer consideravelmente e o país chegou a ser considerado como um novo Tigre Asiático, e especialistas acreditavam que o país vivia "milagre econômico" como os vizinhos Coréia do Sul, Malásia e Tailândia. Entretanto, os altos índices de crescimento econômico, que chegaram a 10% em meados da década de 1990, por causa da crise econômica internacional, haviam recuado para 4,8% em 1999. Outros problemas reclamados pelos investidores estrangeiros são o excesso de burocracia estatal, a corrupção e as restrições à abertura total da economia por parte do partido comunista.

Dessa forma, o Vietnã continua a ser caracterizado como um país agrícola. Graças a seus arrozais, o Vietnã é o segundo exportador de arroz no mundo, com mais de 4,5 milhões de toneladas. Porém, a guerra de 30 anos atrás ainda traz grandes problemas para a agricultura vietnamita.

Apesar do crescimento econômico da década de 1990, o Vietnã ainda hoje é considerado um país agrícola

As bombas químicas lançadas sobre as florestas do Vietnã do Sul deixaram boa parte dos seus rios contaminados pelo agente laranja, e as terras alagadiças nas quais se planta o arroz envenenadas pela guerra química. Para alguns especialistas, o Vietnã ainda terá de conviver com esse trauma por mais 50 anos.

Apesar das dificuldades econômicas e da pobreza, a população vietnamita continua confiando que o futuro do país será melhor do que seu passado recheado de guerras e conflitos. Numa recente pesquisa da entidade norte-americana Pew Research Center, que analisava o percentual de satisfação da população de diversos países em relação ao que pode acontecer nos próximos anos, o povo vietnamita foi considerado o mais otimista do continente asiático. Para 98% dos vietnamitas entrevistados, o futuro das novas gerações no país será mais positivo, índice que é um recorde mundial. Entre os vietnamitas, 69% se disseram satisfeitos com o país, e 51%, satisfeitos com o mundo. Para se ter uma idéia, o grau de satisfação do povo brasileiro divulgado pela pesquisa é bem inferior: 11% e 12% respectivamente.

AUTORIA: Por João Paulo M. Hidalgo Ferreira

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